Lucas Barelli Del Guércio: O Jurista que Une Cartório, Cátedra e Coração

Autor, professor, profissional dedicado — ele mostra como o Direito Extrajudicial pode (e deve) ser humano, técnico e transformador.

1. Sua jornada no Direito Notarial e Registral passa por diversas experiências, da advocacia à atuação como tabelião e registrador civil. Houve um momento decisivo ou um acontecimento marcante que despertou sua paixão por essa área?

R. O momento decisivo que pavimentou o caminho para a atividade no extrajudicial ocorreu no ano de 2005. Havia acabado de colar grau na faculdade de direito e estava inscrito para o 4º Concurso de cartórios realizado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Para minha surpresa cheguei até o exame oral daquele concurso, tendo a certeza de que a atividade me agradava.

2. Você foi aprovado em concursos e teve a oportunidade de assumir uma serventia própria, mas escolheu atuar como substituto. O que pesou nessa decisão e como essa escolha tem impactado sua trajetória profissional?

R. Quando escolhi renunciar a minha função de notário e registrador ponderei diversos fatores, mas o principal deles foi estar exercendo uma função há quatro anos em um local que pouco prosperava. O fator secundário foi verificar que o concurso para ingresso em uma serventia de bom rendimento, tanto no provimento, como na remoção, demandava um tempo de estudo que já não conseguia atingir. O impacto de tal escolha foi extremamente positivo, pois desde então consegui aplicar na minha profissão o conhecimento de anos de estudo, podendo ajudar a sociedade da forma como sempre esperei. Além disso, em conjunto com meu irmão, desenvolvi um lado que nem sabia que existia: o de docente e escritor. Hoje posso afirmar com a mais absoluta certeza que adoro lecionar e escrever.

3. Gerir equipes em cartórios exige equilíbrio entre técnica, liderança e visão estratégica. Qual é, para você, o maior desafio na gestão de um cartório e o que diferencia um time excepcional de um apenas eficiente?

R. As demandas modernas em um cartório de notas estão cada vez mais dinâmicas. Os usuários não têm tempo a perder. Saber atendê-los é então o segredo da atividade. Mas temos diversas regras que devem ser cumpridas, acho que o desafio é sintetizar todas essas regras em um processo de fácil compreensão para os funcionários, desde o momento da recepção de documentos até o momento da entrega do documento pronto para o cliente. Paralelo a isso, devem também ser criados mecanismos de fiscalização do processo criado, garantindo que o que é solicitado está sendo cumprido. Já a parte do protesto tem um procedimento eletrônico bem estabelecido, o que ajuda na gestão do serviço prestado.

4. Você já coordenou e escreveu diversas obras sobre Direito Notarial e Registral, consolidando-se como uma referência na área. Entre todas as publicações, qual teve um significado especial para você e por quê? Alguma delas te desafiou de maneira única?

R. A obra com maior significado para mim é a Teoria Geral do Direito Notarial e Registral, pois demandou e demanda em suas atualizações muito estudo e criatividade. Isso acaba gerando grandes desafios relacionados à sua escrita e forma de comunicação com os leitores.

5. A tecnologia e a inteligência artificial estão cada vez mais presentes no setor extrajudicial. Como você enxerga essa revolução e quais são os limites para garantir que a inovação não comprometa a segurança jurídica?

R. A revolução tecnológica não tem volta. Vejo com bons olhos tudo que pode ser inserido em nossa rotina para ajudar nos processos de produção e fiscalização da serventia. Para não comprometer a segurança jurídica, a maioria das inovações tecnológicas relacionadas à nossa atividade demandam o acompanhamento conjunto de um profissional para garantir que os requisitos jurídicos sejam cumpridos, garantindo assim tudo que se espera da prática de um notarial ou de registro.

6. O setor extrajudicial está em constante evolução. Existe algum projeto, inovação ou mudança legislativa que você ainda deseja realizar e que acredita que pode transformar a atividade notarial e registral?

R. Uma das características do notariado latino é buscar que todos os atos de jurisdição voluntária migrem para ter sua solução feita de forma extrajudicial. Dessa forma, gostaria que no futuro todos os atos que se encaixassem no conceito de jurisdição voluntária, tivessem a necessidade de intervenção extrajudicial para sua resolução, e não judicial.

7. Você já assessorou inúmeras situações jurídicas complexas, desde divórcios e sucessões até incorporações imobiliárias e planejamento patrimonial. Algum caso te marcou de forma especial, seja pelo desafio jurídico ou pelo impacto social envolvido?

R. Pode parecer bobagem, mas tento dar a mesma atenção jurídica a todos os casos que trabalho. Isso faz com que eu me mantenha atento e minimize os erros na serventia. Porém, pelo desafio jurídico e impacto social envolvido, posso pontuar objetivamente que existem diversos casos relacionados ao tema “sucessão hereditária” que demandam grande atenção e estudo, pois envolvem diversos óbitos, existência de menores e incapazes. Além desses, muitas escrituras de alienação de bens imóveis possuem particularidades que exigem muita atenção do cartório na análise de documentos e preparação de uma minuta apta a ser registrada.

8. A atuação em cartórios exige muito mais do que conhecimento técnico; habilidades interpessoais e inteligência emocional também fazem a diferença. Na sua visão, quais características são indispensáveis para quem deseja se destacar no setor?

R. Poderia elencar como características indispensáveis para quem deseja se destacar no setor as seguintes: atenção – nossa atividade demanda um olhar atento; estudo – hoje podemos ofertar uma gama enorme de soluções jurídicas para casos que nos apresentam; resiliência – nada acontece da noite para o dia, então é importante ser resiliente frente as situações que podem acontecer no cartório; e, por fim, não ser acomodado – um cartório, às vezes, pode fazer com que a pessoa se acomode de uma forma que não é saudável.

9. Sua trajetória já impactou muitas pessoas, seja na prática extrajudicial, na docência ou na produção de conhecimento. Qual legado você espera deixar para o setor e para as próximas gerações de notários e registradores?

R. Tudo que faço tem como objetivo primordial mostrar a todos que trabalham com nossa matéria o seguinte: devemos sempre ser vistos como profissionais necessários para garantia de prevenção de litígios e paz social, pois se não conseguirmos isso, teremos a todo momento questionamentos sobre nossa real relevância dentro do ordenamento jurídico e isso não pode acontecer.

10. Com uma rotina intensa entre trabalho, estudos e compromissos acadêmicos, como você administra seu tempo? Existe algum hábito ou estratégia que te ajuda a manter um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional?

R. Administrar o tempo é um dos principais desafios da vida moderna. Mas tento não pensar muito nisso e delimito, desde a hora que acordo, até a hora que vou dormir, um tempo para cada atividade que faço, proporcionando uma rotina organizada. Acho que esse é o segredo: ter uma rotina organizada. Quanto ao equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, tento não misturar as duas, ou seja, não falar muito da minha vida pessoal no trabalho e da profissional em casa. Também tento não trazer trabalho para casa, mas às vezes isso é necessário. E, para finalizar, hoje tento manter uma rotina adequada de alimentação e exercícios, o que ajuda tanto a vida pessoal como a profissional.

Nome Completo: Lucas Barelli Del Guércio

Profissão: Tabelião Substituto e Professor e Autor de Obras relacionadas à atividade extrajudicial.

Data de Nascimento: 04 de Outubro de 1981.

Time do Coração: Corinthians.

Hobby Preferido: Jogar Tênis.

Uma Música que Inspira: Várias, mas atualmente: Beautiful Things – Benson Boone.

Um Livro Inesquecível: O pequeno príncipe.

Uma Citação Que Te Marca: Siga em Frente.

Uma Personalidade Que Você Admira: Gustavo Kuerten.

Uma Saudade: Do que não volta mais.

Redes Sociais: Linkedin

Fonte: INR

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