Refrigerador foi colocado do lado de fora do cartório e pode receber doações 24 horas. Pessoas podem doar amor, água, frutas e alimentos dentro da validade. Morador de rua diz que é grato por iniciativa
 
Para ajudar moradores de rua, funcionários de um cartório decidiram criar uma geladeira solidária. A ideia surgiu ainda em 2016, mas foi colocada em prática há duas semanas na via Chico Mendes, no Segundo Distrito de Rio Branco. O refrigerador pertencia ao local e foi doado após a compra de um novo.
 
O Núcleo de Apoio e Atendimento Psicossocial (Natera) informou, em 18 de julho, que há 242 pessoas vivendo nas ruas da capital acreana. Por isso, o Ministério Público do Acre (MP/AC) criou uma sala de situação para acompanhar principalmente seis pessoas com casos críticos que estão com com problemas de saúde, como tuberculose e HIV.
 
A tabeliã e registradora interina do cartório, Suellen Leite, disse que os trabalhadores conversaram com os moradores de rua e descobriram que eles passavam mais fome no período noturno, pois as casas estão fechadas, assim como os restaurantes que fazem doações.
 
“Decidimos colocar a geladeira para que, principalmente à noite, eles tivessem a oportunidade de ter algo para comer. Nós vamos tomar algumas providências e falar com alguns empresários da área para ver se eles ajudam também e, no mais, já estamos recebendo as doações. As pessoas divulgam nas redes sociais e muita gente está dando um retorno positivo, elogiando e trazendo as doações”, destaca Suellen.
 
A geladeira fica disponível para receber doações 24 horas do lado de fora do cartório, mas há regras que são expostas logo na porta. As pessoas podem doar amor, água sucos, frutas em perfeito estado, alimentos na validade e copos descartáveis. É proibido deixar no local falta de amor, bebidas alcoólicas, alimentos estragados, frango, carne, peixe cru e pacotes abertos.
 
“Não podemos aceitar bebida alcoólica e fazemos essa inspeção diariamente. Se tiver um algum alimento que não pode nós vamos retirar, pois não queremos problema para nós e nem causar problemas para eles. Queremos soluções, queremos ajudar”, afirma.
 
A funcionária conta que os próprios moradores de rua elogiaram a iniciativa. Porém, há dias que não tem nada na geladeira e eles acabam procurando os trabalhadores para saber se algo vai ser doado.
 
“Muitas vezes a geladeira fica vazia. Uma pessoa só não vai conseguir encher a geladeira todos os dias, algumas vezes eles vêm até mim e perguntam se vamos colocar alguma coisa, então a gente sempre espera essas doações e eles ficam muito ansiosos e gratos. A gente coloca as coisas num dia e no outro não tem mais nada”, relatou.
 
Ela diz que não tem como fiscalizar se os moradores de rua pegam um ou mais itens da geladeira de uma só vez. Porém, diz que os funcionários pretendem fazer uma sopa solidária para conversar com eles e orientar para que várias pessoas sejam beneficiadas com a iniciativa.
 
A mulher diz que a intenção é tomar uma atitude e mudar a sociedade um pouquinho de cada vez.
 
“Algumas pessoas perguntam ‘você quer salvar o mundo?’ e digo que se todos pensarem que não adianta fazer nada, ninguém ajuda ninguém. Temos que tomar uma atitude e fazer a nossa parte. Nós já temos as nossas necessidades básicas supridas, então temos sim que ajudar. Se cada um fizer um pouquinho a gente consegue fazer uma sociedade melhor”, destaca.
 
‘Sou grato por isso’
Quem agradece a atitude é o morador de rua Antônio José Nascimento, de 50 anos. Ele conta que há duas semanas sempre pega algo no refrigerador e também coloca água para ajudar outras pessoas.
 
O sentimento, segundo ele, é de gratidão. Ele faz um apelo para que as pessoas tenham consciência e peguem apenas o necessário para que outras pessoas possam receber ajuda. Nascimento lembra que quando não tinha o que comer saia pedindo, mas hoje recorre a solidariedade das doações.
 
“O sentimento é muito bom, se não fosse ela [Suellen] eu não estava aqui, ela me ajuda em tudo. Eu fico feliz, tem gente que ainda tem o coração bom. Alguns chegam no cartório e ignoram outros batem fotos. Se não tivesse a geladeira eu pedia comida. Tenho hérnia e o pé quebrado eu não posso trabalhar. Tenho o que comer todos os dias e sou grato por isso”, finaliza.