Para se ter ideia, as buscas no Google pelo termo “divórcio virtual” cresceram 850% no início de junho
 
Logo no início do isolamento social devido ao coronavírus, na segunda semana do mês de abril, a busca pelo termo “divórcio online gratuito” teve um aumento de 9900% segundo o Google Brasil. Alguns meses depois, na primeira semana de junho, a empresa registrou uma segunda onda dessa situação: o termo “divórcio virtual” cresceu 850%. Esse cenário não é específico para os brasileiros. Na China, por exemplo, a cidade de Xiam registrou recorde de pedidos de divórcio durante as semanas de quarentena, de acordo com o jornal chinês The Global Times.
 
“O excesso de convívio é saturante para todo mundo. A proximidade extrema coloca à prova a consistência das relações”, diz Pedro De Danti, psicanalista e professor da ESPM. Segundo ele, a quarentena nos foçou a viver uma espécie de caricatura do que já vivíamos antes: “É como se a gente estivesse experimentando a nossa escolha de vida anterior com muito mais intensidade, o que nos obriga a refletir isso”.
 
 
No escritório da Debora Ghelman, advogada especialista em Direito Humanizado nas áreas de Família e Sucessões, o número de divórcios aumentou significamente. “Estamos fazendo todo o processo de forma virtual e acho que essa vai ser cada vez mais a tendência”, diz.
 
O processo do divórcio
 
Durante a pandemia, os cartórios disponibilizaram uma via eletrônica para solicitar os pedidos, mas vale atentar que existem dois tipos de divórcio. “Os processos extrajudiciais são aqueles quando o casal não possui filhos menores de idade e estão em comum acordo. Esses são feitos em cartórios. Já os processos judiciais, quando há menores envolvidos, podem ser consensual ou litigioso, e devem ser feitos pela via judicial”, explica Debora.
 
A advogada ainda contou que realizou processos em que não chegou conhecer pessoalmente as pessoas em questão. “Fizemos reuniões e negociações digitais, com videoconferências entre advogados”, disse Debora, que ainda reforçou que essa é uma tendência para um futuro também sem pandemia.
 
Outra característica percebida pela advogada é a mediação. “Chegar em um acordo para termos um processo consensual tem sido muito incentivado pelo judiciário e as pessoas estão aderindo muito bem. O divórcio de comum acordo é muito mais fácil, tanto pelo lado financeiro, já que o custo é bem menor, quanto pelo lado emocional também”, revela.
 
O outro lado da convivência
 
Para o psicanalista, a convivência extrema também fez desabrochar relacionamentos que estavam à espera de uma relação mais próxima. “Nós saímos de um esquema inercial do dia a dia para um momento totalmente novo e muito exigente. Muitos relacionamentos acabaram pela falta de consistência anterior. Outros fortaleceram os seus vínculos”, diz.
 
Pedro ainda faz uma provocação: “A pandemia fez a gente refletir sobre a vida, trouxe um excesso de presença para quem já vivia em conjunto e uma solidão extrema até para quem prefere ficar sozinho. Gosto de provocar com a pergunta: ‘com quem você quer passar a próxima quarentena?’. No fundo, nada mais é do que uma reflexão sobre a sua vida atual. Você está feliz com ela?”