Advogada e especialista em Marketing criam a plataforma online ‘Divórcio Consensual’
 
RIO – Em 2003, numa daquelas noitadas em uma casa de shows do Rio, a empresária Fernanda Rodrigues, hoje com 38 anos, conheceu o policial militar João Martins, de 35. Foi atração à primeira vista. Os dois se apaixonaram, namoraram durante cinco anos e se casaram, em 2008, acreditando que a união seria para sempre. Mas o amor chegou ao fim, e eles se separaram, em 2016. Ninguém casa planejando a separação, mas foi pensando nos matrimônios desfeitos e contrários ao tradicional “até que a morte os separe” que a advogada Marina Monteiro, de 36 anos, e o especialista em Marketing Digital Amaro Monteiro, de 38 anos, criaram a plataforma online “Divórcio Consensual”, site que une advogados a casais que querem agilizar a separação.
 
— Levamos um tempo até chegar num acordo e entender que era a melhor decisão. O divórcio demorou, mas saiu. Hoje nos damos bem — conta a empresária Fernanda Rodrigues, de 38 anos, dona de uma loja de pipoca em um shopping da Zona Norte.
 
O “Tinder da separação” foi lançado há três semanas e funciona da seguinte forma: uma das partes do casal interessado no divórcio preenche um cadastro, responde ao questionário (se ambos concordam com o divórcio, se têm filhos menores de idade e se possuem bens ou dívidas a partilhar) e anexa os documentos necessários para dar entrada no processo. Feito isso, o parceiro é notificado por meio de uma mensagem no celular e precisa confirmar o interesse na separação. Autorizando, a ferramenta então conecta o casal ao advogado parceiro mais próximo da localidade.
 
— As perguntas feitas identificam se você está apto para o divórcio consensual. Caso contrário, encaminhamos juridicamente. Nós fizemos uma pesquisa de campo com mais de 400 pessoas antes de criar o site, identificamos a necessidade — diz Amaro.
 
No site, também são disponibilizadas conferências online para tirar dúvidas sobre a duração do processo. A pessoa pode ainda parcelar o valor do divórcio em até 12 vezes e acompanhar todos os passos da tramitação. A iniciativa já conta com 20 advogados cadastrados e atende, até o momento, só o Estado do Rio. Apesar das facilidades, os criadores do projeto garantem que a ideia não é incentivar o divórcio.
 
— A maioria das pessoas que quer oficializar a separação já está separada há anos. Contudo, a falta de recursos e a burocracia fazem que o casal adiem a formalização do divórcio. O mundo online facilita — conta Marina, que advoga na área da família.
 
Foi o caso da administradora Luciana Soares, de 45 anos. Em 2015, ela decidiu pôr fim ao casamento que mantinha há 12 anos com o ex-marido. Desde então, o processo de divórcio sempre fica de escanteio, seja por motivos financeiros, seja pela falta de tempo para procurar um advogado e dar entrada nos papéis.
 
— Essa ideia é sensacional! Daqui a pouco eu quero casar de novo e ainda nem me separei do marido anterior. Vou me inteirar desse assunto — afirma Luciana.
 
Quase 20 mil divórcios em 2016
 
A Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/1977) chegou ao país em 26 de dezembro de 1977. Segundo a pesquisa Estatísticas do Registro Civil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro do ano passado, 267.268 processos de divórcio foram concedidos em 2016 no país. Desses, 177.078 foram feitos de forma consensual, ou seja, de comum acordo, o equivalente a 66% dos pedidos. No Rio de Janeiro, 19.595 separações legais foram concedidas em 2016, média de uma a cada cinco casamentos que foram realizados no mesmo ano — 105.962.
 
De acordo com o portal de Cidadania e Justiça do governo federal, em 1984 foram contabilizados 30,8 mil divórcios no país. Em 32 anos, até 2016, um aumento de 768%, bem acima dos 60% de acréscimo na população brasileira no mesmo período. Marina Monteiro aponta mudanças ao longo dos anos que flexibilizaram o processo.
 
— Além de alterações legais, a independência financeira alcançada pelas mulheres trouxe uma mudança significativa no papel delas dentro do casamento. A minha experiência indica que 90% dos divórcios são requeridos pelas mulheres — avalia.