“As corporações irão se tornar um guarda-chuva, sob o qual numerosos pequenos grupos de intraempreendedores interagirão em padrões voluntários, complexos e sinérgicos” – Gifford Pinchot III – Autor do livro Intrapreneuring, publicado em 1985
Nos últimos tempos, importantes publicações voltadas para o universo corporativo exibem matérias sobre melhorias na eficiência das organizações com base em inovações, tendência de métodos e desafios a se vencer na gestão de pessoas. Agregue a isso cursos, textos, teorias e vídeos que procuram ensinar as “melhores práticas” direcionadas à produtividade, à formação de lideranças e ao desenvolvimento do trabalho em equipe.
Perguntas surgem como: “Qual o estilo de liderança mais adequado ao seu negócio?”, “Qual a técnica mais eficiente de dar e receber feedback?” ou “Como melhor utilizar os indicadores individuais de desempenho de funcionários?”, por exemplo. As respostas determinam alguns dos métodos e instrumentos que visam, principalmente, a motivação das pessoas e a um maior engajamento das equipes ao ambiente corporativo.
De alguns anos para cá, tanto nas médias quanto nas grandes empresas, ações visando a motivação e engajamento das equipes têm sido implementadas por meio de estímulos ao empreendedorismo. “Empreendedorismo na empresa”? Explico. Segundo Richard Daft, professor de Administração norte-americano, empreendedorismo significa o processo de iniciar um empreendimento ou uma tarefa, organizando, assim, os recursos necessários e assumindo as recompensas e os riscos associados. No caso do ambiente corporativo, empreender significa programar novos negócios, idealizar novas formas de fazer as coisas ou propor mudanças na empresa já em funcionamento. Um conceito conhecido como “intraempreendedorismo”, ou seja, o empreendedorismo interno – aquela vontade intrínseca que o funcionário experimenta de trabalhar com o senso de dono.
Na atividade extrajudicial, promover o intraempreendedorismo nos Cartórios consiste na prática dos funcionários atuarem como “donos de seus setores”. Essa postura exige trabalhar com extrema responsabilidade e empenho, objetivando a otimização do emprego do tempo, do uso de materiais, das instalações da serventia e por ai vai. O objetivo é obter o maior desempenho possível.
Atuar como intraempreendedor significa focar na melhoria dos processos internos do cartório. É buscar a eliminação de desperdícios e aprimorar a qualidade no atendimento aos usuários pelos canais físicos e digitais. O intraempreendedor autêntico, por exemplo, não passa reto quando enxerga um simples clipes no chão do cartório ou observa o usuário esperando tempo demais na fila de atendimento. Ele age com empatia, no sentido de corrigir, aperfeiçoar e surpreender.
O intraempreendedor assume o comportamento pela criação de inovações e melhorias nos processos dentro da organização em que trabalha. Ele desempenha suas tarefas e atribuições com muita responsabilidade, com empenho, analisando o que poderá dar certo e o que não.
Quem é o intraempreendedor no cartório?
A atividade extrajudicial vivencia grandes mudanças. Todo funcionário atento às melhorias nos processos e às possibilidades de inovações poderão ser considerados intraempreendedores. Eles desenvolvem a empatia para se colocar no lugar do colega, detectam suas necessidades e colocam-se na posição dos usuários com suas expectativas ocultas.
As pessoas tornam-se intraempreendedoras, segundo G. Pinchot, em qualquer momento de suas vidas quando se veem diante de oportunidades de melhorias, de evoluções e de crescimento profissional ou pessoal.
A experiência demonstra que nenhum teste pode assegurar que um indivíduo será um intraempreendedor antes que ele o seja. No caso dos cartórios, os gestores, tabeliães, registradores e escreventes responsáveis por equipes, com base no reconhecimento do bom desempenho, necessitam estimular e fazer o funcionário intraempreendedor sentir-se recompensado. Esse reconhecimento é o instrumento que leva suas visões até a realidade, devendo ser, portanto, altamente valorizado.
Valorizar o intraempreendedorismo no ambiente de trabalho é uma forma de as empresas demonstrarem seu amadurecimento. Não empregar o talento e a disposição em fazer melhor em época de rápidas mudanças é sinal de estagnação.
Os cartórios extrajudiciais vivenciam uma jovialização nos seus quadros de colaboradores. Funcionários na faixa dos vinte e tantos anos predominam. Uma geração criativa, afeita às mudanças. À medida que o cartório aceita a atividade do intraempreendedor como um comportamento adequado e interessante às inovações, abre-se um diferencial competitivo nas suas atribuições e serviços prestados.
É claro que esse diferencial competitivo deverá ser sempre estimulado, monitorado e aperfeiçoado visando o aprimoramento dos processos, a melhoria do clima no trabalho e a atratividade aos futuros candidatos a trabalhar nas serventias. Outro ponto a se considerar é que o intraempreendedor não trabalha isolado. Ele necessita dos colegas e dos recursos da infraestrutura do cartório para exercer suas ideias e iniciativas.
Foi o tempo em que os funcionários tinham sua eficiência avaliada por horas trabalhadas, palavras digitadas ou documentos carimbados. O funcionário de hoje, chamado de “trabalhador do conhecimento”, deve ser alguém intraempreendedor, capaz de ter ideias, dar respostas ao que o cartório e o mercado necessitam.
Proporcionar o ambiente para o desenvolvimento de intraempreendedores é provocar sua criatividade, desenvolver seu olhar de dono, ciente de que vale mais “cuidar” daquilo em que se veem engajados e valorizados. Simples assim.
Até nosso próximo encontro, um abraço.
*Gilberto Cavicchioli é consultor de empresas e professor da ESPM e da Fundação Getúlio Vargas, realiza palestras motivacionais e consultoria técnica na gestão de cartórios, coordena o site www.profissionalsa.com.br, é colunista em revistas especializadas e autror do livro O Efeito Jabuticaba e Cartórios e Gestão de Pessoas: um desafio autenticado.