A procura pelo termo “divórcio online gratuito” cresceu 9.900% entre os dias 13 e 29 de abril
 
A busca pelo termo “divórcio online gratuito” cresceu 9.900% entre os dias 13 e 29 de abril, de acordo com o Google Brasil. E “como dar entrada em um divórcio” registrou, no mesmo período, crescimento de 82%, segundo dados divulgados pelo Google. O aumento – supõe-se – é reflexo da experiência da quarentena. Casais que, de repente, foram obrigados a passar 24 horas sobre o mesmo teto por causa das medidas de isolamento social contra o avanço do coronavírus no país.
 
A China, país em que surgiu a pandemia, vivenciou fenômeno semelhante. Logo após as medidas de relaxamento do isolamento social entrarem em vigor, os cartórios começaram a registrar aumento no pedido de divórcios. Na tentativa de conter as separações,o governo aprovou uma lei, no último dia 28, exigindo que os casais que quiserem se separar tenham de passar por um “período de reflexão” antes de dar continuidade ao processo. O prazo de espera é de um mês. A medida causou indignação entre os chineses.
 
Clima de insegurança na saúde e nas finanças contribui para maior interesse pelo divórcio durante o confinamento
Para psicólogos e educadores parentais, que trabalham com famílias, o tema é preocupante. Ninguém estava preparado para enfrentar uma pandemia. Todos nos sentimos inseguros, preocupados com os riscos para a saúde e também para as finanças.
 
Muita gente está sem trabalhar e outros tantos temem serem demitidos a qualquer momento. Pais e mães andam sobrecarregados com a quantidade de tarefas a tocar – filhos, estudos, casa – e muitos chegam a ficar angustiados por não dar conta de tantas demandas. A situação atual é, de fato, uma prova e tanto para saúde mental de todos. É possível que quem não brigava antes estejam trocando muitas farpas agora e é natural que aumente o interesse pelo divórcio durante o confinamento. O que não significa que a separação do casal seja a melhor alternativa.
 
A educadora parental Jacqueline Vilela. Diretora da Parenting Coaching Brasil e autora do livro “Meu filho cresceu e agora?” diz que é preciso ter calma. “Não é hora de apressar decisões”, afirma. Ela diz que é normal os casais olharem o relacionamento com lupa neste momento de convivência intensa. E essa pode ser uma ótima oportunidade de parar de empurrar “a sujeira para debaixo do tapete” e partir para uma reconstrução – e não, necessariamente, para um divórcio durante o confinamento.
 
“A quarentena transformou as paredes das casas em espelhos. Mais importante do que saber o que esses 'espelhos' vão refletir é o que as pessoas, e os casais, neste caso, vão fazer com a imagem refletida neles”, analisa o psicólogo e palestrante Alexandre Coimbra.
 
As horas intensas em família podem provocar conflitos domésticos mas também podem significar reconexão. Casais que partilhavam pouco tempo juntos, convivendo com os próprios filhos, podem ter a chance de ressignificar o estilo de vida. “É possível sair da quarentena com a relação fortalecida”, garante Jacqueline.
 
Advogada orienta casais a ficarem na mesma casa, ainda que queiram se separar
E se o casamento de fato se tornar mesmo inviável, é preciso pesar os impactos dessa decisão. Fora os aspectos psicológicos que recaem sobre todos, inclusive, as crianças, há, ainda, os aspectos práticos. Advogada especialista em Direito Humanizado nas áreas de Família e Sucessões, Debora Ghelman lembra que a decisão pela separação do casal – que já não e algo simples a se fazer –pode se tornar ainda mais complicada durante a quarentena, pela dificuldade em conseguir uma ordem judicial que determine que um dos ex-companheiros saia de casa: “O pedido é possível, mas o seu deferimento será muito difícil”, explica. “Dificilmente o Estado, maior interessado que o vírus não se propague, determinará que uma pessoa saia de sua residência e corra o risco de se contaminar, a não ser em casos gravíssimos em que ocorram abusos.”
 
Muitos casais vêm sendo obrigados a seguir convivendo na mesma casa.De acordo com a advogada, apenas situações em que o convívio acarreta em risco de morte, é possível conseguir o consentimento do juiz. Mas se o divórcio não envolver nenhum tipo de abuso – físico ou psicológico –, a advogada aconselha que, mesmo separados, o ex-casal mantenha o diálogo e continue tentando conviver pacificamente até que a pior parte da pandemia passe. E só depois resolva assuntos burocráticos como a divisão de bens e a guarda dos filhos.