O mercado de imóveis no ABC, que se recuperava da crise econômica, não suportou a pandemia da covid-19. Levantamento da seção paulista do Colégio Notarial do Brasil mostra que o número de escrituras de compra e venda de imóveis neste ano teve queda de 30% em relação a 2019. Apesar dos meses de setembro e outubro terem ensaiado uma sensível recuperação, no geral os números caminham para fechar 2020 muito abaixo do patamar do ano passado.
 
De acordo com o levantamento do Colégio Notarial, entre os cartórios do ABC a maior queda no número de escrituras aconteceu em Mauá, de 38,66% no comparativo de 2019 com 2020. Em 2018 a média mensal de registros na cidade foi de 62,91 no ano seguinte subiu bastante chegando a 85,92 para registrar média de 52,70 este ano. Outro exemplo é São Bernardo, onde a média mensal de escrituras há dois anos era de 273,33 que subiu para 316,17 no ano passado e este ano está em 253,60.
 
Na outra ponta a única cidade, que registrou variação positiva no número de escrituras do ano passado para cá, foi Rio Grande da Serra, uma variação de 38,66%, mas como os números absolutos no município são pequenos, o resultado não interferiu muito na média do ABC. A média mensal de registros e escrituras na cidade foi a melhor dos últimos dois anos, chegou a 8,20, no ano passado foi de 5,92 e em 2018, 6,66.
 
No geral, o ABC, que registrava média mensal de 1.114 escrituras em 2018, chegou a 1.461,58 ano passado para despencar para 1.021,70 este ano. O levantamento do Colégio Notarial considera 2020 até outubro. É possível verificar uma melhora nos números nos últimos dois meses da pesquisa. Em Santo André, por exemplo, foram registrados em outubro do ano passado 458 imóveis, contra 532 este ano. Porém essa recuperação não deve conseguir virar o cenário faltando apenas dois meses para o fim do ano.
 
Para o vice-presidente da seção de São Paulo do Colégio Notarial, Andrey Guimarães Duarte, a queda do movimento de registros de escrituras de compra e venda imóveis foi muito grande por conta da pandemia justamente porque a maioria das pessoas optou pela cautela diante da crise econômica agravada com a pandemia. “A queda foi drástica no início da pandemia e não foi só por dificuldade de operacionalizar a transação ou acesso aos cartórios, porque nós disponibilizamos uma série de serviços digitais, é porque houve desistência do negócio, uma posição de cautela, de esperar para ver o que ia acontecer”, analisa Duarte, que comanda o 4° Tabelião de Notas de São Bernardo.
 
A compra e venda de imóveis implica em custos de cartório e impostos, como o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) que é um tributo municipal que incide sobre o valor do imóvel em média 2%, dependendo da cidade. Para Andrey Duarte esse fator, em geral, não influencia a transação. “Diante do valor total é relativamente pequeno o imposto, o que se vê é que as pessoas estão com receio para os próximos seis meses e deixaram de comprar”, diz.
 
Este mês a Acigabc (Associação das Construtoras e Imobiliárias do Grande ABC) divulgou índice positivo de recuperação das vendas e alta de 6%, no comparativo com o ano passado. Para o vice-presidente paulista do Colégio Notarial, ainda é preciso esperar para que essa tendência apontada pela associação se consolide. “Ainda não é uma demonstração de tendência firme, pois a cadeia da construção civil é muito grande e o planejamento é a longo prazo”, comenta.