Transição climática tem como principal desafio a criação de nova cultura financeira, dizem participantes de seminário
A transição climática tem como principal desafio a criação de uma nova cultura financeira que enxergue esse processo como uma oportunidade econômica, e não apenas como custo, segundo a análise de especialistas que participaram do terceiro seminário do projeto “COP30 Amazônia”, uma iniciativa dos jornais Valor e “O Globo” e da rádio CBN, realizado na quinta-feira (21) em São Paulo.
Para Tatiana Assali, sócia da Environmental Resources Management (ERM), todos os atores do setor financeiro precisam estar alinhados e seguir a mesma direção. “A gente só muda o mundo pelo bolso e só acontece quando o capital é paciente, permite inovação e pode ser aplicado em projetos e estruturas que hoje não são comuns”, disse.
Assali acredita que já não é possível mais separar mitigação e adaptação, pois “agora é questão de sobrevivência”. Para a especialista, a discussão precisa ir além da filantropia e se consolidar no mercado de capitais.
“É importante que o setor financeiro mostre para a economia e a população em geral que trabalhar com finanças sustentáveis e direcionar capital para a bioeconomia é um bom negócio”, afirmou.
Segundo Caroline Dihl Prolo, head de Stewardship Climático da gestora fama re.capital, está faltando “racionalidade” diante das evidências científicas sobre as mudanças climáticas e as consequências que já estão causando. “Estamos vivendo um momento geopolítico péssimo e a racionalidade está em falta. É só juntar as pontas porque já está tudo desenhado. Os dados estão aí. Precisa ter coragem para enfrentar isso, ousadia e capacidade de usar mais a razão do que qualquer outra coisa neste momento”, comentou
A head de Stewardship Climático disse também que as empresas precisam ir além de soluções climáticas e sugeriu que olhem as mudanças como um todo.
“Isso é gestão de risco e retorno. Investir em adaptação aumenta a produtividade e melhora a resistência às crises climáticas. É bom para os negócios”, destacou. “O capital é o que manda. Ele pode atrair recursos e direcionar para onde for preciso. Isso não é ambientalismo, é pragmatismo. É dever fiduciário dos gestores de recursos”, acrescentou Prolo.
Mas a solução vai além da racionalidade. Coragem e ousadia também foram palavras citadas pelos participantes como condições necessárias para que o financiamento climático avance. “Falta coragem para chegarmos aonde temos que chegar. Falar não para operações sujas [no aspecto de emissões de poluentes], e sim para operações novas. Quem vai ser o primeiro a tomar o risco e aproveitar a oportunidade. Tanto no setor financeiro quanto para nós [sociedade] o que falta é coragem”, disse Assali.
Na visão de Marcelo Barbosa Saintive, diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), o diferencial do Estado atualmente é a ousadia do governo e do banco de fomento que lidera em buscara transformação da economia local rumo à descarbonização.
A gestão atual tem um plano para alcançar a neutralidade de carbono até 2050 por meio de uma série de iniciativas, incluindo um fundo de descarbonização com investimentos de R$ 500 milhões, e o programa chamado ES Mais+Gás, focado em energia limpa.
“O exemplo do Espírito Santo é que nós somos ousados. Resolvemos utilizar um banco pequeno de desenvolvimento regional que aposta em inovação financeira, blended finance, e capacitar a equipe em finanças sustentáveis. É um Estado e um banco muito ousados. Faltam ousadia e parceria, pois esse trabalho também exige parcerias.”
Saintive destacou que os bancos públicos têm papel essencial para viabilizar esse tipo de agenda. “O banco de desenvolvimento existe para preencher lacunas que o setor privado não consegue atender. Ele é um agente financeiro da política pública.”
Segundo o diretor-presidente do Bandes, o governo capixaba tem avançado em seu plano de descarbonização desde 2023, mapeando setores mais emissores e regiões vulneráveis. “Ao receber esse diagnóstico, o Estado passa a ver a viabilidade financeira. Por exemplo, para alcançar a meta de 2030, precisamos de quase R$ 5 bilhões”, afirmou.
O projeto “COP30 Amazônia” é uma realização dos jornais Valor Econômico, “O Globo” e da rádio CBN com o patrocínio master de Eletrobras, patrocínio de JBS, Vale e Phillip Morris Brasil, apoio do governo do Acre, BNDES, governo do Pará, Suzano e Vivo e parceria institucional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Fonte: Valor Econômico


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