Aumento no estado paulista segue comportamento nacional. No Brasil, taxa subiu 63% de 2010 para 2020. A tendência é que números continuem aumentando em 2021
 
“Chegou a pandemia e o que estava desgastado tomou proporções nunca antes sonhadas, nem por mim, nem por ele”, desabafou uma mãe paulista de 47 anos à Crescer, que preferiu não se identificar. De fato, a pandemia de coronavírus aproximou as famílias. No entanto, nem todos conseguiram lidar de forma positiva com o “excesso de convivência”.  “Isso trouxe algumas dificuldades subjacentes, como preocupação excessiva, impossibilidade de se divertir, mudança no estilo de vida e, principalmente, a eclosão de problemas psicológicos e emocionais. Quem tinha um problema conjugal antes, agora está vivenciando esse problema com mais ênfase, além das questões que vieram com a pandemia”, explicou a psicóloga Katree Zuanazzi, diretora do Instituto Brilhar Saúde Mental, de Curitiba, no Paraná.
 
Segundo dados do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo (CNB/SP), 2020 “bateu o recorde” de divórcios no estado de São Paulo. Em 2010, foram 9.377 divórcios enquanto em 2020, esse número aumentou para 17.395 — cerca de 85% a mais. Se comparado a 2019, o aumento foi de cerca de 5%. O crescimento segue o comportamento nacional. No Brasil, em 10 anos, o aumento foi 63%. Segundo Andrey Guimarães Duarte, vice-presidente do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo (CNB/SP), no começo da pandemia, houve uma queda muito brusca na busca pelo divórcio, pois muitos cartórios fecharam. “Conforme foram reabrindo, fomos notando uma subida considerável”, afirma. “Além disso, nesse período, tivemos a introdução de uma plataforma virtual que permitiu que alguns serviços, como divórcios, fossem realizados pela internet”, conta.
 
E a tendência é de alta também em 2021. Os dois primeiros meses desse ano já registraram um aumento de 10% se comparado ao mesmo período do ano passado. “Esse aumento dos pedidos de divórcio decorre da convivência dentro de casa e da mudança de rotina. Muitos casais conviviam pouco e empurravam um problema conjugal para um momento posterior, para o crescimento dos filhos. Mas, conforme as pessoas foram colocadas em isolamento intenso, não houve mais espaço para falta de diálogo e os problemas foram expostos”, disse a advogada Barbara Heliodora à Crescer. Segundo ela, em relação à lei, não houve alteração. O divórcio, no Brasil, só acontece por sentença de juiz ou por escritura pública. O que mudou foi à flexibilização de ser feito de forma online, sem o comparecimento físico no cartório. No entanto, só podem recorrer a essa modalidade quem não tem filhos ou tem filhos maiores de idade.
 
EVITANDO CONFLITOS
 
Para a psicóloga Marilene Kehdi, especialista em atendimento clínico, para evitar o conflito é fundamental que o casal tire um tempo a sós. “Para que melhore a harmonia e abaixe o nível de ansiedade e estresse causado pela própria pandemia, é essencial que o casal reserve um tempo durante a semana, não de quantidade de horas, mas de qualidade, para ficarem a sós e fazerem algo que os dois gostem. Para que possam se divertir juntos, rir juntos, relaxar juntos. Pode ser um filme, uma conversa sobre algo da relação que precisa ser melhorada ou apenas rever fotos de quando se casaram. O importante é a reaproximação. Isso ajuda a reacender a chama do desejo, fortalece a união e o amor”, orienta.
 
No dia a dia, segundo ela, outra boa dica é controlar o humor. “Tome cuidado para não projetar no outro o estresse que você está sentindo. São delicadezas e gestos diários que vão fortalecendo a união. Portanto, exercite a paciência, a tolerância com o outro, pois é justamente no excesso de convivência que os atritos e as diferenças aparecem. E isso é normal, o que não podemos é alimentar isso. Então, tenha respeito, estimule a troca de gentilezas e de carinho, faça algo de que o outro gosta, ajudem-se mutuamente. Para que o relacionamento dê certo, é preciso que os dois se empenhem no mesmo sentido”, completou.
 
Já aqueles que decidiram pelo divórcio, segundo Katree, quando o clima de guerra está instalado, o bom mesmo é divorciar o quanto antes. “Quando há possibilidade de a criança presenciar brigas e discussões, o ideal é que se faça a separação. Mas se o casal se tolera, respeita e consegue conviver, é possível esperar até o fim da pandemia. O ideal é que a criança não fique em um ambiente tóxico, desagradável e vivendo com tensão. Outro ponto importante é que os pais evitem de mudar o filho de casa nesse momento. Esse já foi um ano de muitas mudanças e o psicológico sofre com isso”, finalizou.