Embora a busca pela equidade de gênero tenha avançado em questões parentais, o papel da mãe, especialmente na primeira infância, continua a se destacar.

Ao considerar a compreensão psicológica e jurídica da alienação parental, é difícil ignorar a associação do gênero feminino ao papel de alienador. Essa correlação não é fortuita e pode ser explicada por vários fatores intrínsecos à maternidade e à posição social das mulheres1.

Predomínio do papel materno

Embora a busca pela equidade de gênero tenha avançado em questões parentais, o papel da mãe, especialmente na primeira infância, continua a se destacar. As crianças pequenas, que são mais vulneráveis, podem ser mais facilmente influenciadas, tornando-as suscetíveis à alienação.

Guarda majoritariamente materna

Historicamente, as mulheres têm sido as principais responsáveis pela guarda dos filhos. Mesmo com o avanço da guarda compartilhada, na maioria dos casos, as crianças permanecem na residência da mãe, passando a maior parte do tempo sob seus cuidados.

Denúncias de violência e abuso

Um dos desfechos da alienação parental é a falsa denúncia de violência ou abuso, especialmente sexual, comportamentos que são frequentemente atribuídos aos homens e denunciados pelas mães.

No entanto, isso não significa que não existam pais alienadores ou que todos os casos de violência ou abuso sejam falsos. Ainda assim, é inegável que, considerando aspectos psicossociais e psicopatológicos, o papel de alienador seja predominantemente associado ao gênero feminino.

Relações simbióticas e psicopatologia

Muitas vezes, o perfil de genitores alienadores está relacionado a relações simbióticas, onde há uma fusão emocional entre mãe e filho, dificultando a individuação do filho2. Essas relações simbióticas, que são comuns em mães com transtornos de personalidade como dependente, narcisista ou borderline, favorecem a indiferenciação de sentimentos e emoções.

Na perspectiva psicopatológica, relações simbióticas envolvem dependência excessiva e dificuldades em se relacionar com terceiros, interferindo nos processos de triangulação familiar.

Segundo a teoria freudiana3, a relação simbiótica materno-filial se desenvolve na fase do desenvolvimento psicossexual, onde a criança tem um vínculo intenso com a mãe. Essa fase pode levar a sentimentos de ciúme e rivalidade com o pai, comumente conhecido como complexo de édipo.

Ansiedade de separação

Outro fator psicopatológico comumente atribuído às mulheres é a ansiedade de separação. Quando não superada após o estágio normal de desenvolvimento, a ansiedade de separação pode comprometer o desenvolvimento pleno da criança.

Em casos de divórcio, é comum que crianças experimentem regressão, o que pode manifestar-se como ansiedade de separação. Esta ansiedade pode ser mal interpretada ou até manipulada pela mãe alienadora, resultando em situações onde a criança rejeita o convívio com o pai, não por medo dele, mas pela dificuldade de se separar da mãe.

Transtornos de personalidade

Alguns transtornos de personalidade, como o transtorno borderline ou de dependência, têm maior prevalência em mulheres4 e apresentam características que podem favorecer comportamentos alienadores. Embora nem todas as pessoas com essas psicopatologias se tornem alienadoras, esses transtornos aumentam as chances de tais comportamentos.

Diferenciando comportamentos protetivos de alienadores

Profissionais de saúde e operadores do direito enfrentam o desafio de distinguir atitudes maternas protetivas de comportamentos alienadores. A genitora alienadora tende a mascarar suas ações sob o pretexto de proteção, julgando-se a única detentora legítima da responsabilidade parental.

Portanto, é essencial que os profissionais que lidam com casos de alienação parental façam uma avaliação cuidadosa e específica para diferenciar atitudes realmente protetivas daquelas que são alienadoras. Isso contribui para a adoção de práticas parentais mais saudáveis e evita a perpetuação de dinâmicas prejudiciais.

Tabela: Diferenciação entre atitudes alienantes e protetivas

Fonte:5

Essa diferenciação é fundamental para guiar intervenções eficazes e apoiar pais a adotarem práticas parentais saudáveis e não violentas.

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1 Ana Paula Neu Rechden, Elise Karam Trindade, Patrícia Cantisani Schäffer Pires. Alienação Parental: a influência do perfil de personalidade em alienadoras. In: Joel Rennó Jr ; AZUMA, A. O. ; ANGELELLI, A. M. M. ; RIBEIRO, C. C. ; RIBEIRO, H. L. ; GOMES, I. E. V. E. M. . Tratado de Saúde Mental da Mulher uma abordagem multidisciplinar. 1. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2023.

2 Winnicott, D W The Maturational Processes and the Facilitating Environment: Studies in the Theory of Emotional Development. New York: International Universities Press, 1965.

3 Freud, S Totem e Tabu: Algumas concordâncias na vida psíquica dos selvagens e dos neuróticos. Standard Edition, 13, 1913.

4 American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

5 Ana Paula Neu Rechden, Elise Karam Trindade, Patrícia Cantisani Schäffer Pires. Alienação Parental: a influência do perfil de personalidade em alienadoras. In: Joel Rennó Jr ; AZUMA, A. O. ; ANGELELLI, A. M. M. ; RIBEIRO, C. C. ; RIBEIRO, H. L. ; GOMES, I. E. V. E. M. . Tratado de Saúde Mental da Mulher uma abordagem multidisciplinar. 1. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2023.

Fonte: Migalhas

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