O Brasil, se mantiver o equilíbrio entre regulação e inovação, pode transformar a ‘tokenização’ em sua nova vantagem competitiva no mundo

No dia 21 de outubro foi divulgado o “Brazil tokenization report 2025”. Trata-se de um estudo anual que é publicado pela Nexa Finance e a Fintrender, duas empresas pensantes e atuantes em alguns segmentos do que poderíamos chamar de “economia digital”.

Estamos falando mais especificamente dos setores ligados aos cripto ativos e suas soluções tecnológicas como o blockchain, a tokenização, stablecoins e outras vertentes desta nova economia fundamentada na tecnologia e descentralização.

O estudo traça um panorama sobre “o que aconteceu” nos últimos 12 meses no setor. Você pode acessar o report completo no link a seguir: https://www.braziltokenizationreport.com/

Na visão do relatório, o mercado de ativos digitais em 2025 poderia ser explicado por uma frase: “Há anos em que nada acontece – e meses em que décadas acontecem”. Para quem acompanha esse mercado, realmente foi um ano relevante. O relatório é bastante completo, e aqui vamos apenas destacar seus pontos principais.

Nos Estados Unidos, onde havia grande resistência em dar legitimidade ao setor de criptoativos, o governo Trump criou o primeiros regime federal para stablecoins (“Genius Act”).

Stablecoins são moedas digitais que replicam moedas reais, com o dólar, o euro ou o real. Elas tem diversas utilidades, servindo como reserva de valor e para operações de câmbio.

Já movimentam um volume eloquente no mundo: mais de US$ 3,5 trilhões por mês, superando Visa e Mastercard em volume transacional.

O estoque total passa dos US$ 300 bilhões, e o impacto vai muito além do universo cripto.

Na Europa, também houveram avanços regulatórios legitimando o setor. E o Brasil se consolidou seu papel como o principal laboratório de tokenização da América Latina.

Neste ano, a tecnologia de tokenização de ativos por trás do universo de moedas digitais, teve o “dinheiro tradicional” como primeira fronteira relevante de tokenização. Sem dúvidas estes é um dos grandes destaques apontados no relatório.

E o porque desse sucesso todo? Simples. Uma moeda digital representando, por exemplo, o dólar, tem custo transacional muito baixo, para ser convertido no mundo todo (operações de câmbio simples), e é uma reserva de valor mais livre e menos sujeita a intervenções governamentais.

E, os mercados de capitais começam a seguir a mesma trilha. O relatório mostra como a tokenização deixou de ser experimento e vai virando infraestrutura.

Tokens são representações digitais de um ativo, registardo em uma blockchain (uma rede que é descentralizada e com registros fidedignos). O token é uma espécie de recibo, um certificado de posse. Tokenizar é vincular algo real a um registro digital. Quase um cartório digital, mas com atributos de segurança, velocidade, e baixo custo.

Nos Estados Unidos, instituições como a BlackRock, o JP Morgan e a Nasdaq, ao longo de 2025 avançaram no desenvolvimento de ativos tokenizados, tais como fundos tokenizados de títulos públicos americanos, e até discutem como listar ações tokenizadas.

A previsão global é de um mercado que pode ultrapassar US$ 30 trilhões em ativos tokenizados até 2030. O mais relevante ao longo de 2025 é a natureza desse crescimento: institucional, regulado e interconectado.

Não se trata mais, como em anos recentes, de separar a economia tradiconal, do mercado financeiro, dos “malucos das criptomoedas”. Os mercados estão em franca convergência e intersecção.

Neste contexto, o Brasil virou referência regional em regulação e inovação.

Existem várias discussões e avanços sobre o tema no Banco Central, CVM e no Congresso, principalmente no que diz respeito a regras específicas para stablecoins.

E os resultados começam a aparecer:

As stablecoins atreladas ao real se multiplicaram — todas com modelos de lastro (depósitos que garantem seu valor), auditoria e integração com o PIX. Esses projetos mostram que o “real digital” já está em circulação.

E a tokenização conversa com a governança, com a CVM e o Banco Central incorporando o tema à agenda regulatória — algo que o mundo acompanha de perto.

O relatório chama este momento de “The Convergence Moment”: o encontro entre regulação, instituições, inovação e tecnologia.

É quando o blockchain deixa de ser bastidor e vira infraestrutura, assim como a inteligência artificial fez com dados e interfaces.

No caso brasileiro, esse encontro é ainda mais simbólico.

Depois de revolucionar os pagamentos com o PIX, o país pode agora liderar a tokenização de ativos reais, exportando um modelo que combina eficiência, inclusão e supervisão — três palavras raramente juntas em finanças.

O dinheiro transacional digital vai chegar até você. E nós, os cidadãos comuns, vamos adotar isso muito rápido, e sem perceber. E não será por escolha consciente. As soluções de câmbio para viagens e pagamentos internacionais usando estas tecnologias vão falar a linguagem do leigo, e vão ganhar popularidade por apelos simples: custo, velocidade e praticidade.

No mercado de capitais e investimento em geral também. O que se caminha é pela busca de estruturas eficientes usando a tokenização como forma de gerar investimentos, como fazemos hoje, só que mais ágeis, operacionalmente seguros e baratos.

Então não se trata de gostar ou não. Você uma hora vai virar um investidor nesse universo.

Os mercados de capitais serão eficientes em te mostrar isso.

E o Brasil, se mantiver o equilíbrio entre regulação e inovação, pode transformar a “tokenização” em sua nova vantagem competitiva global.

Fonte: Valor Investe

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