Biomas investirá R$ 55 milhões para restaurar área degradada da Mata Atlântica no sul da Bahia

Empresa de crédito de carbono que tem entre seus acionistas Itaú, Marfrig, Rabobank, Santander, Suzano e Vale, a Biomas lança nesta sexta-feira, 25, seu primeiro projeto de restauração de floresta nativa – modelo em que áreas de floresta degradadas recebem mudas de plantas nativas e são completamente restauradas. Nesse tipo de projeto, um crédito de carbono gerado corresponde a uma tonelada de gás carbônico retirada da atmosfera pelas árvores plantadas.

Com um aporte de R$ 55 milhões, o projeto da Biomas será desenvolvido em uma área em que originalmente havia Mata Atlântica no sul da Bahia. A previsão é de gerar 500 mil créditos de carbono em 40 anos.

Se os créditos fossem vendidos pelo valor médio atual do mercado – US$ 13 –, o projeto renderia US$ 6,5 milhões (cerca de R$ 37 milhões na cotação atual). A Biomas, no entanto, considera que seus créditos serão comercializados em um segmento “premium”, dada a qualidade do projeto. Nesse caso, o valor do crédito deve mais do que dobrar.

“A depender da qualidade do crédito e do ano da safra, o crédito pode ser vendido entre US$ 30 e US$ 70”, diz o CEO da companhia, Fabio Sakamoto. A receita do projeto, portanto, estaria entre US$ 15 milhões (R$ 85 milhões) e US$ 35 milhões (R$ 198 milhões). Pesam na cotação do crédito fatores como a variedade de árvores plantadas e a credibilidade da empresa desenvolvedora.

O projeto da Biomas será feito em parceria com a empresa de celulose Veracel – cujos donos são a brasileira Suzano e a finlandesa Stora Enso, cada uma com 50%. Um total de 1,2 mil hectares não contínuos da Veracel receberá dois milhões de mudas, que serão plantadas nos 20 primeiros meses.

De acordo com o presidente da companhia de celulose, Caio Zanardo, eucaliptos até poderiam ser cultivados nas áreas do projeto (desmatadas nos anos 1970), mas não de forma economicamente viável. Isso porque são pequenos fragmentos de terra, muitos deles com declives. Zanardo diz ainda que essas áreas são de preservação adicional, ou seja, além do que a lei obriga preservar.

O executivo também afirma que a empresa pode desenvolver projetos semelhantes de forma a dobrar a produção de carbono. Mas a decisão de fazer novos investimentos no setor vai depender dessa primeira experiência.

Ainda que aumente a produção, a expectativa é de que o carbono seja um negócio menor para a Veracel. “Neste momento, não vejo uma grande relevância do carbono como negócio. Tem uma oportunidade no futuro, mas marginal.”

O projeto da Biomas e da Veracel terá sua primeira safra de créditos em 2029. Neste primeiro ano, devem ser gerados menos de 25 mil créditos. A expectativa é de que o maior volume de créditos seja produzido entre os 10 e os 20 primeiros anos do projeto, período em que se espera que a demanda cresça dadas as metas de grandes empresas de reduzirem suas emissões de carbono.

Segundo o professor de economia da UERJ e especialista em mercado de carbono Ronaldo Seroa da Motta, no entanto, hoje 60% dos créditos de carbono gerados no mercado não são vendidos.

O segmento que sofre mais, porém, não é no qual a Biomas pretende atuar, mas o de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD+).

O segmento de REDD+ dá aos proprietários de terra um estímulo para manter a vegetação em pé. Nesse modelo, é calculado o porcentual médio de desmatamento na região da propriedade que comercializa os créditos.

No ano seguinte, verifica-se quanto foi devastado. Se o dono da terra conseguiu manter mais mata do que se calculava que seria destruída, a diferença é convertida em créditos de carbono, que podem ser revendidos a empresas interessadas em compensar suas emissões.

Esse segmento vem sendo visto com descrédito por investidores desde que o jornal britânico The Guardian, a revista alemã Die Zeit e a organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos SourceMaterial publicaram, em janeiro de 2023, uma reportagem que mostrava que parte dos créditos de carbono reconhecidos pela certificadora Verra não compensavam emissões como deveriam.

O conteúdo se baseava em dois estudos que mostravam que, de 29 projetos aprovados pela Verra, apenas oito apresentavam evidências de redução significativa de desmatamento.

No mercado de REDD+, o crédito era comercializado a cerca de US$ 10 em janeiro de 2023. No fim do ano passado, o preço era de US$ 3.

“A regeneração de floresta (modelo do projeto da Biomas) continua sendo a mais vantajosa das opções. É um segmento em que é mais fácil medir o quanto se retira de gás carbônico do ar e que caiu na graça do mercado”, diz Motta. “Isso não quer dizer que todos os projetos de restauro sejam vendidos. Todo mercado de crédito de carbono depende da reputação de quem desenvolve o projeto”, acrescenta o professor.

Descasamento entre oferta e demanda

Sakamoto, o CEO da Biomas, afirma que a opção por apostar na regeneração decorreu da percepção de que há um descasamento entre oferta e demanda por créditos desse modelo. “As empresas que estão com metas para reduzir as emissões até 2030 estão com dificuldade de encontrar esses créditos. Os projetos demoram para amadurecer e precisam de um capital intensivo nos cinco primeiros anos.”

O executivo destaca que serão 70 as espécies nativas plantadas no projeto do sul da Bahia (nas cidades de Belmonte, Eunápolis, Guaratinga, Itagimirim, Itapebi, Mascote, Potiraguá e Santa Luzia). “Quanto mais exuberante for a floresta, maior a capacidade de capturar carbono.”

A Biomas pretende restaurar 2 milhões de hectares de áreas degradadas ou improdutivas nos próximos 20 anos. Segundo Sakamoto, a empresa analisa a possibilidade de participar de leilões de áreas desmatadas que o governo deve lançar nos próximos meses.

Fonte: Estadão

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