Especialistas explicam como organizar e calcular os gastos, que podem incluir impostos, honorários advocatícios e regularização imobiliária
A morte é uma certeza que todos vão enfrentar em algum momento. Diante dessa realidade inevitável, é fundamental estar preparado para os desafios que surgem após a perda, especialmente no que diz respeito às despesas com inventário, processo legal que organiza a partilha dos bens do falecido entre seus herdeiros.
Esse processo pode envolver uma série de gastos, como impostos, honorários advocatícios e custos para regularizar imóveis. Essas despesas costumam variar entre 10% e 15% do valor total do patrimônio. Nesse cenário, o seguro de vida surge como uma solução eficaz para garantir um recurso mais rápido às famílias e evitar que esse momento delicado seja ainda mais complicado financeiramente.
“Diante da certeza da morte, é essencial antecipar esse planejamento para não ampliar a dor da perda com burocracias financeiras inesperadas”, afirma Larissa Althoff, diretora de parcerias estratégicas da MAG Seguros.
Com ela concorda Carolina Aparicio, co-CEO da Planeje Bem, plataforma digital de planejamento de final de vida. Ela destaca a importância de falar abertamente sobre a morte para desmitificar o tema. “Falar sobre a morte não impede que ela aconteça, mas ajuda a se preparar para garantir que as pessoas que amamos estejam protegidas”, comenta.
Segundo Aparicio, também é importante desmistificar a ideia de que inventário é um procedimento exclusivo para pessoas com grandes fortunas ou apenas para a elite econômica. Muitas pessoas associam esse processo a patrimônios elevados, o que pode levar à negligência na organização e no planejamento sucessório para quem tem bens considerados mais modestos.
“Inventário não é coisa de rico, pois a maioria das pessoas possui ao menos um imóvel ou um carro, e esses bens precisam passar por inventário também”
— Carolina Aparicio, co-CEO da Planeje Bem
Ou seja, quem possui residências, terrenos, veículos ou outros bens, independentemente do valor absoluto, deve estar atento à necessidade de organizar a transmissão legal desses bens para evitar complicações futuras para os herdeiros.
Passo a passo para a abertura de um inventário
Para iniciar o processo de inventário, a advogada e sócia fundadora do Rücker Curi, Izabela Rucker, recomenda buscar primeiramente um advogado, planejador financeiro ou uma assessoria de investimentos de confiança. Esses profissionais ajudam a orientar e organizar toda a documentação necessária.
O segundo passo é realizar o mapeamento detalhado dos bens, direitos e deveres da pessoa falecida, para compreender o valor total do patrimônio e calcular as custas envolvidas, como impostos, taxas de cartório, honorários advocatícios, entre outros.
“Esse profissional pode realizar um levantamento completo do patrimônio da pessoa, identificando se são dinheiro, imóveis, ações, joias ou obras de arte, elaborando uma lista detalhada desses bens”, afirma Rucker.
Com esses dados em mãos, será possível contratar um seguro de vida com capital segurado adequado para cobrir todas essas despesas. O capital segurado é o valor máximo de dinheiro que a seguradora se compromete a pagar ao segurado ou aos seus beneficiários caso ocorra um sinistro (um evento previsto no contrato de seguro, como a morte, nesse caso).
Por exemplo, imagine que um empresário possua um patrimônio estimado em R$ 3 milhões. Após seu falecimento, sua família precisa iniciar o inventário, que pode levar meses para ser concluído e custar cerca de 10% do valor total dos bens em taxas e impostos — R$ 300 mil, nesse caso.
Se esse empresário tivesse contratado um seguro de vida no valor de R$ 500 mil em favor dos filhos, esse recurso seria liberado imediatamente, trazendo benefícios práticos aos herdeiros ao reduzir o estresse do processo e diminuir conflitos familiares.
“O seguro proporciona uma liquidez imediata para as despesas, pois o valor é recebido sem precisar passar pelo inventário, o que ajuda a não ampliar ainda mais a dor nesse momento sensível”, diz Aparício, da Planeje Bem.
Qual o melhor momento para pensar no inventário?
Carolina Aparicio recomenda aproveitar os chamados “gatilhos da vida” para iniciar o planejamento.
“Quando você se casa, separa, tem um filho, compra um imóvel ou até mesmo vai viajar, são momentos que fazem você refletir: ‘Se acontecer algo comigo, como gostaria que as coisas se desenrolassem? Quais são as minhas vontades para as pessoas que amo? Quais bens posso proteger e quais documentos preciso organizar?’”, aponta a especialista.
Larissa Althoff, da MAG, acrescenta que, para quem já possui patrimônio constituído, é fundamental pensar no inventário desde cedo.
“A medida que o patrimônio cresce, fica mais importante ter uma organização estruturada, inclusive para usufruir de benefícios fiscais e tributários.”
— Larissa Althoff, da MAG Seguros
Os riscos de não planejar
Ignorar o planejamento sucessório pode gerar sérios problemas.
“Muitas famílias chegam no momento da morte desamparadas, porque, apesar de possuírem bens, não têm liquidez suficiente para arcar com as despesas do inventário. Isso dificulta o acesso imediato ao patrimônio e pode levar à venda forçada de bens para levantar recursos”, explica Althoff, da MAG Seguros.
Além disso, a falta de diálogo e organização prévia aumenta as chances de conflitos familiares, processos judiciais prolongados e prejuízos financeiros para todos os envolvidos, atrasando a divisão dos bens e gerando desgaste emocional.
Segundo ela, essa liquidez é fundamental para evitar que as famílias tenham que se desfazer de bens rapidamente para cobrir os custos, garantindo mais tranquilidade em um período difícil.
O testamento é uma ferramenta importante para evitar disputas entre herdeiros, já que permite ao titular manifestar suas vontades sobre a distribuição dos bens. Contudo, conforme explica a advogada Izabela Rucker, tudo que está em testamento precisa passar pelo inventário e pelo processo judicial ou extrajudicial, o que pode prolongar a liberação dos bens.
Ou seja, embora o testamento seja uma forma de reduzir conflitos, ele não substitui a necessidade de planejamento financeiro e seguro de vida para garantir liquidez imediata.
Fonte: InfoMoney


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