O estado possui 41,2% dos registros para a permanência de migrantes internacionais realizados em todo o País
 
No dia 25 de junho é celebrado em todo o Brasil o Dia do Imigrante. O estado de São Paulo historicamente é o que recebe mais migrantes internacionais. Segundo dados da Polícia Federal, foram feitos, em São Paulo, 41,2% dos registros para a permanência de imigrantes realizados em todo o País. Esse dado é capaz de mostrar a importância do estado no cenário migratório.
 
De acordo com o Museu da Imigração de São Paulo, a cidade e o estado possuem toda estrutura e capacidade para acolher os imigrantes. Existem três principais formas de acolhimento oferecido a eles, que muitas vezes podem se conjugar. “No primeiro, o próprio migrante, mesmo antes de migrar, conta com uma rede informal de apoio, seja de familiares ou de amigos; no segundo, o próprio Estado assume a responsabilidade de dar suporte ao recém-chegado, facilitando, por exemplo, os caminhos para a regularização migratória ou o acesso a direitos a partir da ação de instituições, como postos de saúde ou escolas; no terceiro, o acolhimento é impulsionado pelas organizações da sociedade civil, como ONGs e movimentos sociais”, explica a instituição.
 
Na cidade de São Paulo, é comum a associação de um bairro com um país, como por exemplo o tradicional bairro da Mooca com os italianos, o bairro da Liberdade com o Japão e a região da 25 de março, conhecida pela concentração de imigrantes árabes. Isso porque o estabelecimento de migrantes internacionais em determinadas regiões da cidade de São Paulo foi é determinado, principalmente, pelo mundo do trabalho. Seja no setor secundário, identificado pelas diversas fábricas principalmente nos bairros do Brás e da Mooca, seja no setor terciário com as lojas, quiosques e armazéns de bairros como a Liberdade, Bom Retiro e Santa Ifigênia. “O preço dos transportes era caro, o poder econômico da maior parte dos trabalhadores estrangeiros não era alto e, portanto, era necessário que morassem próximos aos seus empregos”, explica o Museu da Imigração. Além disso, é importante ressaltar o senso de comunidade, que faz com pessoas recém-chegadas procurem habitar bairros em que há conhecidos, parentes, amigos etc.
 
Em 2018, o bairro da Liberdade recebeu uma alteração no nome da estação de metrô que liga a região, deixando de ser apenas Liberdade para se tornar Japão–Liberdade. O bairro, como mencionado, concentra uma grande quantidade de comércio da cultura japonesa, seja em suas lojas, com armazéns e produtos japoneses, ou nos restaurantes, com a rica culinária asiática. O tabelião de notas de Promissão (interior de São Paulo), Lucas Shigueru Fujiike, classifica a ida ao bairro da Liberdade como obrigatória toda a vez que vai a capital paulista.
 
Lucas Shigueru é neto de japoneses, que sempre procuraram manter os costumes e as tradições com os filhos e netos. “Desde sempre tive contato direto com a cultura japonesa, seja através da forma de tratamento, como, por exemplo, ‘Ji-Chan (avô)’ e ‘Ba-chan’ (avó), seja através de outras práticas, como o hábito de levar pequenas tigelas de arroz no ‘hotokesama’ (espécie de santuário doméstico que serve para reverenciar os antepassados)”, explica.
 
Logo após tomar posse como tabelião de notas em Promissão, Lucas conta que o presidente da Associação Cultural Esportiva Nipo-Brasileira de Promissão, Fábio Maeda, o convidou a ser membro e a participar dos eventos culturais. “Penso que a associação é de suma importância para manter viva a memória de nossos antepassados, bem como fomentar a cultura japonesa na nossa região”, destaca.
 
Porém nem sempre o acolhimento e aceitação das culturas de outros países foram bem aceitas no Brasil. Desde as últimas décadas do século XIX, quando a migração se torna um fenômeno de massa em terras paulistas, sempre houve questionamentos sobre quais seriam as pessoas desejadas e as indesejadas. Nesse período tanto asiáticos quanto africanos precisavam de uma autorização especial para entrar no Brasil, ao contrário de europeus por exemplo. Já o Decreto 3.010, de 20 de agosto de 1938, estabelece que, em caráter permanente, estavam impedidos de entrar no Brasil migrantes surdos, mudos, cegos, entre outros. Há ainda reiterados casos de preconceito contra nordestinos e, mais recentemente, com migrantes latino-americanos, africanos e haitianos.
 
Para o notário, a aceitação e adesão da cultura de outros países pelos brasileiros é nítida. “Muitos já têm o costume de frequentar eventos culturais japoneses e aderiram à gastronomia. Como brasileiro e descendente de japonês, acredito que a tendência é melhorar, principalmente como forma de prestigiar ambas as culturas que, conquanto sejam diametralmente opostas, podem e devem conviver em harmonia em nosso país”, conclui.