Conferência deste ano, no coração da Amazônia, é o certame ideal para discutir e esclarecer o papel que o setor agrícola pode desempenhar no combate às mudanças climáticas
O agronegócio desempenha um papel da maior relevância nas agendas climática e ambiental. No entanto, é fundamental criar um marco regulatório internacional que viabilize a transição para uma economia sustentável e de baixíssimo carbono. A COP30, que acontecerá neste ano, em Belém (PA), oferece uma excelente oportunidade para darmos a partida nessa direção, desenvolvendo conceitos que confiram primazia à ciência e ao reconhecimento das diferentes realidades geográficas, econômicas e sociais.
O Acordo de Paris, assinado na COP21, tem como objetivo central fortalecer a resposta global à ameaça das mudanças climáticas e aumentar a capacidade de os países de lidarem com esses iminentes impactos. Entretanto, o grande desafio de manter as temperaturas do planeta em níveis aceitáveis, limitando o aumento a não mais do que 1,5°C, conforme recomendado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), depende do êxito em algumas frentes, como a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), o incremento da produção e utilização da biomassa e seu poder de fotossíntese, a substituição de produtos de origem fóssil por produtos de base natural, a diminuição da desertificação e a promoção da economia circular.
Nesse sentido, não podemos subestimar o papel que a agricultura desempenha, seja na existência humana ou na contenção do aumento das temperaturas. Oito bilhões de pessoas hoje consomem cerca de 10 bilhões de toneladas de produtos agrícolas, sendo 6 bilhões de alimentos e rações animais, e 4 bilhões de materiais essenciais, como borracha, madeira, combustível, algodão e fibras. Erroneamente negligenciada nas discussões sobre clima, a agricultura é uma ferramenta crítica para o sucesso nas frentes mencionadas.
Se adotarmos ações globais transformadoras, será possível alcançar resultados desejáveis. No entanto, isso não ocorrerá espontaneamente. São urgentes incentivos e estruturas de financiamento adequados para direcionar práticas, pesquisas e investimentos de maneira eficaz. Após a COP29, em Baku (Azerbaijão), por exemplo, prevaleceu a visão de que os mercados de crédito de carbono deveriam ser a nova unidade monetária climática. Ainda assim, é imprescindível muito debate para garantir que essa inovadora moeda seja transacionada com fluidez no plano internacional, sempre ancorada nos requisitos sólidos da rastreabilidade, transparência, auditabilidade e equidade.
Outros mecanismos e significativos aportes financeiros são essenciais para garantir que a transição do setor agrícola se torne realidade em um futuro bem próximo. Isso é particularmente verdadeiro para as economias emergentes. Por isso, não há mais tempo a perder. Não podemos deixar passar essa oportunidade. Governo, setor privado e sociedade civil devem unir esforços e buscar conciliar posições, com foco na COP30, no Brasil.
A Conferência deste ano, no coração da Amazônia, é o certame ideal para discutir e esclarecer o papel que o setor agrícola pode desempenhar no combate às mudanças climáticas. Mas as abordagens ultrapassadas e simplistas que ignoram as peculiaridades e potencialidades das diferentes geografias não serão suficientes. Será necessário um conjunto abrangente de preceitos focados especificamente na agricultura, capazes de orientar e inspirar discussões, nos planos doméstico e internacional, sobre a contribuição positiva do setor para essa agenda.
Atualmente, a falta de harmonização nas políticas climáticas para o agronegócio dificulta a cooperação transfronteiriça e limita a eficácia dos esforços globais. É preciso estabelecer princípios que, levando em conta as diversas realidades agrícolas e os desafios enfrentados por diferentes países, sirvam de parâmetros para formuladores de políticas, negociadores e outros stakeholders, promovendo uma compreensão comum dos desafios e oportunidades.
Nesse contexto, entidades representativas do setor, como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB), estão prontas para fomentar a discussão e, ao lado do governo brasileiro e demais stakeholders, inclusive com outros países, liderar o caminho a ser trilhado. A finalidade é sair da COP30 com um mapa claro de como a colaboração internacional pode apoiar a transição do setor agrícola, acelerando o progresso em direção a metas climáticas ambiciosas e garantindo que a rota para o futuro de baixo carbono seja justa e equitativa.
Fonte: Correio Braziliense
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