Confinamento obriga pessoas a enfrentarem diferenças e especialista conta como preservar o convívio em casa
 
A pandemia de Covid-19 mudou totalmente o modo de viver do planeta inteiro. De uma hora para outra, as pessoas foram obrigadas a passar mais tempo em casa. Renunciando a atividades que antes eram comuns, como o barzinho de sexta-feira com os amigos, o futebol no meio da semana e o passeio no shopping durante a tarde. Hábitos que, muitas vezes, também serviam de escape para problemas e diferenças com familiares que dividem o mesmo teto.
 
Com o tempo, mesmo que exista muito amor e carinho entre as pessoas, é natural que o convívio forçado gere alguns atritos. Mas saber lidar com esses conflitos e impedir grandes desgastes emocionais é fundamental para manter a saúde mental de todos em dia. Além de evitar rompimentos desnecessários. De acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil, entre janeiro e maio desse ano, houve um aumento do número de divórcios no país superior a 26%, quando comparado ao mesmo período de 2020.
 
Como evitar desgastes desnecessários
 
Muitas vezes a separação é o melhor caminho mesmo e aceitar isso pode ser bom para todos os envolvidos. Mas, em outros casos, conversas sinceras e algumas doses de empatia podem resolver os problemas e evitar desgastes crônicos.
 
“A melhor maneira de lidar com conflitos é o diálogo aberto com uma autêntica predisposição à resolução do problema que seja satisfatória para ambas as partes. A dificuldade nesses momentos é manter o equilíbrio emocional e renunciar rancores, mágoas e julgamentos, além de adotar uma postura de também ouvir o outro e admitir suas próprias falhas”, conta Luciene Bandeira, psicóloga e cofundadora da Psicologia Viva, maior empresa digital de saúde mental da América Latina e integrante do Grupo Conexa.
 
De acordo com a especialista, os problemas também podem se manifestar de maneira silenciosa. “Alguns indícios apontam para um clima pouco amistoso no ambiente familiar, exemplos disso são: quando as pessoas se isolam em ambientes distintos da casa, evitam contato nas áreas comuns da moradia, e quando estão no mesmo ambiente e acontecem longos períodos de silêncio que chegam a ser constrangedores”, explica.
 
Por isso é fundamental prestar atenção no próprio comportamento e nas reações – e ausência de reações – de quem convive com você. Para manter uma boa relação com as pessoas que amamos é preciso cuidado e disposição. O confinamento forçado, o medo de se contaminar e a tristeza coletiva pela situação do planeta podem interferir na saúde mental de todos. Dessa maneira, boas doses de paciência não vão fazer mal para ninguém. Por outro lado, também é imprescindível expor e falar sobre as situações que não te agradam.
 
De acordo com Luciene existem algumas atividades e programas que podem auxiliar as pessoas a recuperarem o convívio saudável. Apostar em momentos de lazer em conjunto, prática de exercícios físicos e demonstrar interesse genuíno em ouvir e entender o próximo são algumas das alternativas. “Caso essas opções não sejam viáveis, não funcionem ou a comunicação já esteja bastante prejudicada, sempre é recomendado procurar ajuda profissional seja para terapia individual, de casal ou de família. É possível inclusive fazer esse tipo de terapia na modalidade de atendimento online”, aconselha a psicóloga.
 
Me vacinei e ainda respeito as normas de segurança vs Me vacinei e quero voltar ao “normal”
 
O que fazer quando alguém quer manter a quarentena e outra, que mora na mesma casa, quer voltar à rotina do passado? Mesmo antes da vacinação, infelizmente, já era comum esse tipo de embate. De acordo com o Consórcio de Veículos de Imprensa com dados das secretarias estaduais de saúde, quase 600 mil brasileiros já perderam a vida para a Covid-19. O país também já ultrapassou a marca de 20 milhões de contaminados pelo coronavírus.  Porém, algumas pessoas parecem não se importar muito com esses números.
 
Segundo Luciene, o recente avanço da vacinação no Brasil apenas mudou as possibilidades de argumento. “Aqueles que querem, precisam ou apenas gostam de estar nos ambientes externos e com outras pessoas passaram a se sentir ainda mais confiantes em relação às suas escolhas e não conseguem entender por que outras pessoas não voltaram ainda à vida normal”, diz.
 
Já quem é mais cauteloso e ainda acha cedo para abandonar os protocolos de segurança, como isolamento social, uso de máscara e álcool gel – que é o recomendado por especialistas – acham arriscado que outras pessoas voltem a sair e relaxem com os cuidados. “. Quando duas pessoas com perspectivas tão diferentes vivem juntas precisam ambas respeitar as escolhas um do outro, mas negociarem também um meio-termo que seja confortável para ambos. Vale aqui combinarem regras, limites, cuidados. Mas sempre a solução será pelo diálogo, compreensão e respeito ao outro”, recomenda Luciene.