Dados do Colégio Notarial do Brasil indicam que foram realizadas 434 separações ao longo de 2020
 
O número de divórcios realizados nas cidades do Alto Tietê cresceu em 10,4% em 2020, na comparação com o ano anterior, segundo dados do Colégio Notarial do Brasil (CNB). O índice é o maior em 10 anos.
 
Ao todo, os cartórios de notas da região registraram 434 separações. Em 2019, foram 393. A última vez em que houve um índice tão alto foi entre os anos de 2011 a 2012, quando o número cresceu 23,8%.
 
O levantamento inclui dados de Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano.
 
Para a advogada Raquel Rondon, o isolamento social da pandemia da Covid-19 teve forte influencia para que esse número crescesse.
 
Ela destaca que a iniciativa da separação, na maioria dos casos, parte das mulheres, já que muitas se sentiram sobrecarregadas com as tarefas domésticas, home office e cuidado com os filhos na quarentena.
 
No entanto, ela acredita que 2021 deve ser diferente e aposta no diálogo como alternativa para a conciliação (confira abaixo).
 

 
Os dados do CNB mostram que nunca se registrou tantos divórcios no Alto Tietê como em 2020. Entre 2011 e 2013, houve uma outra disparada no índice, assim como aconteceu em todo o país depois de uma mudança na Constituição Federal que facilitou o processo.
 
Depois, voltou a sofrer queda em 2016, quando foram registrados 6,6% menos separações. No ano seguinte, o total de divórcios cresceu, mas teve redução de 5,1% até 2019.
 
Números por cidade
 
Na comparação entre os município, Santa Isabel foi a cidade que registrou o maior crescimento no número de divórcios. Foram 60% a mais em 2020, segundo os dados do CNB. Em seguida estão Arujá (+58,3%) e Guararema (50%).
 
Em números absolutos, Salesópolis foi a que teve o aumento menos expressivo. De um divórcio em 2019, passou para três no ano passado. Já as cidades de Biritiba Mirim e Mogi das Cruzes foram as únicas que registraram quedas. Foram, respectivamente, 66,6% e 5,4% a menos.
 

 
Separação na pandemia
 
Para a advogada Raquel Rondon, o isolamento social da pandemia da Covid-19, que fez com que casais ficassem mais tempo juntos, teve forte influência sobre os relacionamentos. Como muitas pessoas passaram a trabalhar em casa, os pequenos problemas, que antes não eram percebidos, passaram a incomodar.
 
“Muitas vezes, as pessoas trabalham o dia todo fora, se veem só no final do dia. Parece durante a pandemia, esses problemas pequenos não conseguiram mais ser arrastados. Eles estouraram e as pessoas não souberam conviver com eles”, diz.
 
“A maioria dos problemas que chegaram para a gente, eram problemas que você via que eram problemas pequenos. Não eram problemas de desvio de caráter da pessoa. Eram questões de falta de diálogo”, completa.
 
No escritório em que atua, em Mogi das Cruzes, Raquel diz que a maioria dos clientes é formada por mulheres que se queixam do acúmulo de tarefas e da falta de apoio dos companheiros. Trabalhando em casa e tomando conta dos filhos, o cenário ficou ainda mais difícil.
 
“Muitas mulheres reclamam de acúmulo de função, porque tinha que cuidar dos filhos, cuidar dos afazeres domésticos, cuidar do próprio serviço, enquanto, muitas vezes, o homem estava parado lá, fazendo só o home office dele”, afirma.
 
“A mulher de hoje não é mais a mulher que foram nossas mães, nossas avós, que tinham o lado de aceitar. Até porque elas eram só do lar. Agora, em meio à pandemia, com o acúmulo de funções, os problemas que eram pequenos antes da pandemia, estouraram”.
 
Embora a insatisfação e a vontade de se separar pareçam mais fortes, a advogada lembra que os casais devem ter calma. Durante o atendimento, ela destaca que busca compreender o que motivou a separação e tenta dar alternativas, porque, além de ser irreversível, o processo pode ser doloroso.
 
“O trabalho com esses casais vem desde o primeiro momento que eles chegaram no escritório. Eu tive a possibilidade de orientar casais, encaminhar para a terapia. Teve algumas pessoas que se conciliaram, mas tem muitos casais que ainda estão caminhando nesse processo de divórcio”, destaca.
 
“Eles não percebem o alto custo que é o divórcio. O alto custo não é só financeiro. Ele é emocional, ele é físico, ele é psicológico, porque ele desgasta não só ambas as partes, mas também os filhos”.
 
Menos divórcios em 2021
 
Para o novo ano, a expectativa da advogada é que os divórcios diminuam. Ela conta que os debates sobre a saúde mental, trazidos com a pandemia, têm facilitado o diálogo e a conciliação entre os casais. Além disso, as festas de final de ano e achegada de 2021 trouxeram esperança, segundo Raquel.
 
“O ponto positivo que eu entendo desses casais, hoje, é que as pessoas estão criando esse interesse em conversar e cuidar das doenças psicológicas, crises de ansiedade, cuidar de casos depressivos”.
 
“Elas estão entendendo a necessidade delas de conversar e preservar o diálogo. Elas entendem que o processo de divórcio é muito mais doloroso do que viver junto e tentar consertar os problemas. Acho que as pessoas devem pensar, dialogar, antes de levarem a uma demanda dessa”.
 
“Me parece que esse começo de ano, ao meu ver, deu uma esperança para os casais. Os casais que me procuraram em dezembro, mais ou menos, tiveram as festividades de final de ano, de Natal, ano novo, eles ficaram com a família, teve aquela confraternização. Me parece que os conflitos entre eles melhoraram. Agora em fevereiro as pessoas não têm me procurando tanto mais”, conclui.