É preciso quebrar esse tabu. Veja como se planejar até mesmo em relação ao divórcio
 
Falar de divórcio é um tabu. E claro que as pessoas não se casam pensando em se separar, porém, se 1/3 dos casamentos terminam em divórcio no Brasil, não seria inteligente incluir essa possibilidade na gestão de riscos do seu planejamento financeiro?
 
Eu diria que sim, pois nessas relações geralmente existe uma certa dependência econômica e afetiva e, após do rompimento, pode ser difiícil seguir.
 
Esteja você se preparando para o casamento, já casado ou no meio de um processo de separação, é importante entender o papel do dinheiro nisso e como evitar e resolver conflitos.
 
O diálogo é premissa básica, então antes de se casar é essencial escolher o regime do casamento. Isso porque se vocês não conversarem antes, lá no cartório, na hora de assinar, vão acabar indo na opção mais genérica, que é da comunhão parcial de bens (onde tudo que é adquirido durante a relação é compartilhado igualmente no fim dela) e essa talvez não seja a melhor opção pra você.
 
Como exemplo, pode ser que um de vocês seja super econômico e priorize os objetivos coletivos, enquanto o outro é gastão e consome o dinheiro apenas consigo mesmo, e isso tenha levado ao rompimento – mesmo que só um tenha se esforçado para comprar o carro da família, na hora do divórcio, a divisão será de 50% para cada um.
 
Algumas pessoas podem achar justo, outras não, depende muito do contexto, então é importante ter a conversa prévia para que os dois exponham suas ideias e preocupações e tomem essa decisão de forma consciente. Como dizem, combinado não sai caro.
 
Uma outra maneira é através de um pacto antenupcial, que, como o nome já indica, deve ser feito e assinado antes do casamento. Nele se pode personalizar tudo, definir percentuais de divisão de bens, possibilidades de pagamento de pensão, penalidades caso haja comprovação de traição, e o que mais for importante para o casal. É indicado principalmente para pessoas de alta renda, que desejam preservar o patrimônio ou quando o outro apresenta questões relacionadas a problemas financeiros, entre outras motivações.
 
Já no caso da separação total de bens, o casal deve conversar para entender que se ambos têm potencial de geração de renda diferente que não desejam compartilhar, ou se realmente querem fazer uma gestão financeira totalmente apartada, essa pode ser uma boa opção para evitar problemas futuros – que assim como as demais, deve ser discutida e apenas concretizada se os dois tiverem certeza que será justo e benéfico para ambos.
 
Quem já é casado também pode alterar o regime de casamento, você sabia? Então, se vocês andam tendo discórdia por causa de dinheiro e entendem que essa mudança pode ser benéfica para a relação e as finanças da família, existe a possibilidade.
 
Durante o casamento, independentemente do regime escolhido, para evitar problemas na hora de dividir os bens e, principalmente, para evitar uma separação por motivos financeiros, eu sempre oriento que o casal contribua com as despesas e aquisição dos bens, com percentuais proporcionais à renda de cada um. Desse modo, é mais justo durante a união e fica mais fácil fazer a divisão, se for necessário um dia.
 
Com isso quero dizer que se a renda de um é de R$ 5.000,00 e do outro R$ 3.000,00 é claro que não será possível dividir absolutamente tudo por dois, nesse caso, ou ambos concordam em viver um padrão de vida de R$ 6.000,00 ou aquele que tem renda maior irá automaticamente desembolsar mais para terem reservas ou conquistarem objetivos.
 
Já ouvi muita gente dizer “ah, mas esse apartamento eu comprei sozinho, ela ganhava tão pouco, que mal me ajudou, não acho justo dividir meio a meio”, e pra essas pessoas eu falo sobre o risco financeiro, pois o casamento é como uma sociedade e ao assinar o contrato, você concorda com os termos e aceita os riscos, que podem incluir uma doença, o desemprego, a intromissão da família, filhos, mudanças de cidade etc.
 
Além do fato de que a pessoa talvez não contribua com dinheiro, mas seja o responsável pela construção da casa, limpeza, compras ou criação dos filhos. Nem todo cálculo deve ser puramente financeiro.
 
Mas é essencial que as duas partes contratem um advogado que defenda seus interesses e busquem uma partilha justa, com o mínimo de dano possível.
 
E que depois seja feita uma reestruturação financeira, já que será tempo de se acostumar a viver sem o outro e com uma renda e responsabilidades diferentes. Dito isso, eu sugiro que comece a ter mais atenção ao orçamento de casa, faça algumas escolhas, priorize a reserva de segurança e planeje o futuro financeiro de forma mais autônoma.
 
Por ser uma nova fase de vida, exige mais foco para que as contas fiquem em dia, portanto, passar a anotar entradas e saídas e estipular um valor de gastos mensais por tipos de item, vai ajudar a manter o controle. Adequar o padrão de vida a nova realidade financeira deve ser necessário, então abra-se a essa necessidade e tente se adaptar rapidamente, antes de se endividar tentando manter um padrão que só era possível por terem duas rendas na casa.
 
Um divórcio nunca é fácil, por mais tranquilos que ambos estejam, porque há muito mais envolvido, mas não oficializar a união também pode ser um problema, principalmente se há bens adquiridos antes e filhos de outras relações. Se acontece de um dos dois ter um problema grave de saúde, ou vir a falecer, a falta de comprovação da união pode gerar diversos contratempos e problemas financeiros, além da dor do momento.
 
Se não querem se casar, que tal registrar uma união estável? Está aí mais uma pauta de conversa para vocês.
 
Por fim, quando não dá mais para seguir juntos, é importante lembrar que há vida pós-casamento e pode ser bem melhor sem brigas judiciais e divisões traumáticas de bens. O “felizes para sempre” pode ser cada um no seu canto, vivendo novas experiências e sem mágoas do passado, pelo menos, ao se tratar da parte financeira, já que esse é um ponto que pode ser trabalhado e ficar sob controle durante a relação e no fim dela. E falando em fim, lembre-se que cada fim é um novo começo.