Em evento do Migalhas, especialistas discutiram como essas tecnologias podem transformar o trabalho jurídico e quais são as expectativas e preocupações do mercado
O uso da inteligência artificial no dia a dia da advocacia está transformando a maneira como os profissionais jurídicos realizam suas tarefas. Ferramentas de IA, especialmente as generativas, estão sendo cada vez mais incorporadas nos escritórios para automatizar atividades rotineiras.
No entanto, essa inovação também levanta questões sobre a qualidade, a ética e a confidencialidade no uso da tecnologia, exigindo uma adaptação cuidadosa e responsável por parte dos escritórios e dos profissionais do direito.
Durante o evento “Inteligência Artificial na Advocacia”, promovido pelo Migalhas, o advogado Henrique Fabretti, Opice Blum Advogados Associados , destacou que, embora o impacto da IA seja inegável, ela ainda é objeto de controvérsia. “Há uma divergência significativa nas previsões sobre como a IA afetará a advocacia.”
Enquanto alguns estudos indicam que a profissão jurídica será uma das mais impactadas, Henrique aponta que outros minimizam esses efeitos. No entanto, o consenso entre aqueles que contratam serviços jurídicos parece ser “de que o impacto será grande e profundo”, afirmou o advogado.
Segundo a advogada Carla Couto, sócia do TozziniFreire Advogados, embora algumas tarefas possam ser automatizadas, o trabalho jurídico em si não deve mudar.
“A IA não substitui os profissionais, mas atua como um assistente, auxiliando na realização de tarefas mais mecânicas e permitindo que os advogados foquem na qualidade e no refinamento do trabalho.”
A causídica ressaltou a importância de monitorar o uso dessas ferramentas, especialmente em um campo que exige alta confidencialidade e proteção de dados.
“Estamos em uma fase de experimentação, e é crucial educar os profissionais para que usem a IA com responsabilidade”.
A mesma preocupação é compartilhada pelo advogado Luiz Felipe Di Sessa, sócio do Mattos Filho. O profissional destacou a necessidade do profissional utilizar a ferramenta com cautela.
“A IA tem nos dado um ganho de eficiência, mas é fundamental que os advogados revisem os resultados para evitar erros ou informações vazias que podem surgir da tecnologia.”
Ele também apontou que, embora a IA possa reduzir custos em algumas atividades, “o trabalho humano na revisão e validação dos resultados gerados pela IA continua sendo indispensável”.
O advogado alertou para os riscos de confiar cegamente nos resultados gerados por IA, citando um caso em que advogados enfrentaram problemas ao apresentar argumentos baseados em jurisprudências inexistentes criadas por IA.
“Nosso papel como advogados é garantir que o resultado final seja consistente e livre de vieses ou alucinações.”
Ainda no debate, a questão da transparência no uso da IA também foi abordada. Em resposta a uma pergunta do espectador, os especialistas concordaram que o uso de IA deve ser informado aos clientes, especialmente quando o resultado gerado pela tecnologia é parte do trabalho entregue.
“Acredito que esse uso deve ser precedido de um acordo ou de um pedido expresso do cliente.”
Por fim, os advogados concordaram que no futuro da advocacia, a IA será cada vez mais integrada, mas sem substituir o papel crítico e analítico dos advogados.
Como destacou Carla, “é caminho sem volta, e os profissionais que souberem tirar o melhor proveito dessas ferramentas, sem comprometer a qualidade e a ética, certamente se destacarão”.
Fonte: Migalhas
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