Garantir uma proteção para momentos da vida como um divórcio, pode trazer mais segurança emocional e financeira para a mulher
Diferente do que vivemos no passado, o divórcio entre casais se tornou mais comum e concebível socialmente. Com isso, vemos construções familiares mais amplas e formas de conduzir essa partilha menos rígidas.
Ainda assim, observamos que algumas das partes, seja por questões emocionais ou financeiras, possuem mais dificuldade naquilo que consideramos “seguir em frente”.
No caso das mulheres, essa dificuldade pode vir associada a vários fatores que têm como causa a sua própria condução e organização de vida, mas, normalmente, também muito vinculada a nossa estrutura social.
Em geral, as mulheres são as principais cuidadoras da família e dos filhos, usam mais do seu tempo na administração da casa e das tarefas domésticas, não recebem a mesma remuneração no mercado de trabalho do que os homens e, muitas vezes, estão fora desse meio por diferentes motivos. E esses fatores ficam ainda mais evidentes e dolorosos no momento de um divórcio.
Mas, afinal, como podemos conduzir de forma saudável essa transição de vida? Como as mulheres podem direcionar as suas vidas, desde antes de um divórcio, para que não se desestruture de forma tão abrupta no momento de uma separação?
Vamos entender melhor neste artigo, sobre como esse caminho pode ser mais próspero para as mulheres e conhecer a história de duas mulheres que vivenciaram esse momento.
Divórcio não precisa ser traumático
Como comentamos, no passado o divócio não era uma opção comum. Menos ainda visto com bons olhos pela sociedade, que chegava a julgar, em especial as mulheres, pelo tal fracasso no relacionamento.
Demorou, mas as pessoas perceberam que um casamento pode sim ter um fim, e isso não precisa ser sentenciado pelos demais, tanto que muitas leis e formatos de registros de uniões ganharam múltiplas facetas, que auxiliam nesse processo.
No Brasil, em 2021, foi registrado o número recorde de divórcios, com mais de 80 mil casos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM. E já nos primeiros meses de 2022, esse número já se aproxima dos 20 mil registros, de acordo com o Colégio Notarial do Brasil.
Muitos especialistas comentam que esses registros podem ser, em sua maioria, creditados pelos fatores de simplificação do processo de divórcio, e também pelo isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.
Porém, nem sempre esses acordos de divórcio acontecem de forma amigável pelos próprios envolvidos. Eles exigem uma dose de resiliência e até ajuda de profissionais, como advogados e psicólogos.
Essa dificuldade torna-se ainda mais intensa quando há filhos gerados nessa relação, seja por questões financeiras ou por organização da divisão da guarda e dos cuidados com a criança.
Para Amanda Teixeira, administradora de 36 anos, mãe do Bernardo, de cinco anos, a resposta veio junto com um acordo amigável com seu ex-companheiro: “Partiu de mim o pedido de divórcio depois de um relacionamento de 12 anos, mas somos parceiros e optamos por dividir todas as despesas do Bernardo, além de um valor mensal para despesas recorrentes, como com remédios, etc.”
Ela ainda nos conta que em relação a divisão da guarda a decisão foi equilibrar o calendário. “Bernardo fica com o pai duas vezes na semana e fins de semana intercalados. Assim, conseguimos partilhar melhor a criação dele e também os momentos de lazer.”, afirma.
Diálogo como base das decisões entre ex-casais
Um relacionamento pode chegar ao fim por vários motivos. E, mesmo que haja uma semente para dor, frustração e decepção, é uma situação que precisa ser resolvida levando em consideração o equilíbrio de ambas as partes.
O diálogo é uma das formas disso ser definido de forma amigável, pois você consegue chegar em um acordo interessante e apenas aciona ajuda profissional para formalizar o que precisar de documentação.
Essa fonte do diálogo nem sempre é límpida em todos os momentos, em especial, quando há ainda a criação dos filhos para fazer essa conversa precisar ser mantida por anos.
A bióloga Débora Araújo dos Reis, de 32 anos, mãe do Miguel, de cinco anos, passou pelo momento da separação duas vezes com o mesmo companheiro. “Em ambos os momentos buscamos o exercício do diálogo e da responsabilidade afetiva com o nosso filho, independente de quem motivou a ação, para que as diferenças entre nós dois, não afetassem a condução da nova convivência e a criação dele.”, afirma.
Para Débora a primeira separação, em um período em que Miguel ainda estava na fase da amamentação, foi um momento em que ele naturalmente precisou passar mais tempo com ela. Já na segunda, a fase de vida do Miguel era outra, mas ainda assim exigiu um novo tipo de esforço por parte dela.
“Ambos tinham carreira no ambiente acadêmico e a inserção dele no mercado aconteceu enquanto decidi empreender para não terceirizar os cuidados do nosso filho. Inevitavelmente essa circunstância deixou a paternidade dele mais focada nos fins de semana.”, afirma Débora.
Divórcio e a sua vida financeira
Historicamente, a estruturação da nossa sociedade não permitiu que as mulheres tivessem as mesmas oportunidades de vivência que os homens, seja em relação a ter uma carreira, estudos e independência financeira. E, até hoje, ainda enfrentamos e vivemos as consequências desse atraso.
Logo, em um divórcio, é comum esperar uma desvantagem da mulher em dar continuidade ao padrão de vida que foi estabelecido enquanto casal por diversos motivos.
Quantas mulheres que você conhece que precisaram deixar o mercado de trabalho para conseguir conciliar as necessidades do filho, ou simplesmente são demitidas após a licença-maternidade?
Quantas, como o exemplo da entrevistada Débora, se desafiam no empreendedorismo da maternidade? Ou ainda, pelo simples fato de que não se organizaram financeiramente, até por falta de conhecimento e informação de como fazer, e o ato de recomeçar parece ainda mais complicado?
São muitos detalhes e muitas realidades diferentes para observarmos, inclusive de percepções contrárias a esse contexto, de mulheres com independência financeira e uma estrutura familiar que lhe permite dar segmento e sentido aos seus próprios projetos.
“Eu já era independente financeiramente do meu ex-marido, antes da separação. E, com o meu trabalho, consigo manter o padrão de vida que eu tinha, porém sei que esse não é o cenário da maioria.”, conclui Amanda.
Começando a fazer diferente
Diante desse breve contexto histórico, o cenário não pode ser desanimador. As mulheres estão se empoderando e reescrevendo uma nova oportunidade. Então, como podemos desde sempre fazer diferente?
Talvez, a gente precise partir do princípio de desconstruir como a sociedade e os nossos companheiros nos colocam dentro de espaços que deveriam ter as tarefas compartilhadas, sem sobrecarregar nenhuma das partes, e também como nós mesmas decidimos nos posicionar.
Por exemplo, por que é a mãe que precisa sempre estar à frente de tarefas como levar ao médico ou a uma atividade extra, ou ainda coisas rotineiras, como dar banho e cuidar da alimentação?
Por outro lado, porque quando ela delega isso ou simplesmente de forma natural recebe essa ajuda, ela se sente culpada por negligenciar uma função que julgam ser materna?
“Nós, mulheres, precisamos superar essas crises internas para administrar a vida com felicidade e satisfação. É importante enxergar a criação de um filho com amor, mas sem romantizar a maternidade, assim fica mais leve e diminui a sensação de solidão e desigualdade. Precisamos praticar o autoamor.”, finaliza Débora.
E no caso das tarefas de casa, muitas mulheres devem se identificar que desde sempre aprenderam a ter essa aptidão, enquanto os homens parecem completamente perdidos, não é mesmo?
Possivelmente, isso venha da criação que esses homens receberam quando meninos, mas por isso precisamos carregar isso como um fardo? Ensine e compartilhe como as coisas ficariam mais adequadas para a sua realidade.
Mas, para além dessas atividades corriqueiras, precisamos lembrar que financeiramente você também pode estar bem para não ser alguém dependente.
E, mesmo que talvez ser alguém ativa no mercado de trabalho seja algo difícil para você, há alternativas, que vão além de tentar se desafiar no empreendedorismo.
Para que isso aconteça, é importante que você estude sobre as possibilidades e também identifique aquela que melhor se encaixa no seu perfil.
Você já buscou entender as formas de investimentos que as instituições financeiras oferecem, e que podem fazer o seu dinheiro render ainda mais? Ou quem sabe, dedicar a aplicar uma renda na previdência privada.
Uma pesquisa publicada em 2022 pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha, mostra que 72% da população feminina no Brasil não praticam investimentos financeiros, em especial, pelo motivo de falta de dinheiro.
Entre os homens, 34% fazem investimentos e 58% conseguem guardar dinheiro, o que reforça a diferença cultural da relação com o dinheiro que temos entre os gêneros.
Outro produto que ainda não é tão disseminado e que faz uma diferença nesse momento de autocuidado e organização financeira é o seguro de vida, que hoje é oferecido por muitas empresas de forma até personalizada e focado na mulher.
Este tipo de seguro funciona como uma espécie de reserva de emergência no modelo de apólice. Ele pode ser usado em ocasiões como nascimento do filho, divórcio ou casamento, situações de assédio, entre outros acontecimentos que são considerados mais recorrentes para esse público.
Imagine a quantidade de mulheres que se separariam se tivessem condição de manter o seu padrão de vida pelo menos por um tempo. Isso é real. Em um divórcio há custos com advogados, enquanto um assédio, seja psicológico, moral ou sexual, pode exigir suporte psicológico, judicial e até mudança de cidade.
Ou seja, é um caminho financeiro mais imediato para que você possa se reestruturar em um momento mais difícil de se encontrar uma saída, sem depender de terceiros, seja o seu ex-companheiro ou familiares.
A mensagem final, simbolicamente resumindo tudo isso, é que as mulheres sempre tiveram a capacidade de reagir diante das dificuldades, mesmo com tudo parecendo tão confuso e complicado. E, atualmente, temos ainda mais ferramentas para poder fazer de forma independente.
Mas, claro, vivemos em um universo social e não precisamos nos isolar para isso. No fim do dia, o melhor é ninguém soltar a mão de ninguém. Você não está sozinha.
Fonte: Elas Que Lucrem
Deixe um comentário